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Sunday, June 20, 2021

Desemprego recorde e inflação em alta fazem do Brasil o 2º país com maior sensação de mal-estar - Jornal O Globo

RIO - A combinação de desemprego recorde e inflação alta levou o Brasil a ocupar a segunda pior posição no índice de mal-estar, que inclui 38 nações, entre países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Brasil como convidado. É o que revela levantamento realizado pelo pesquisador Daniel Duque, do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas), antecipado ao GLOBO.

Dados do IBGE e da OCDE reunidos pelo pesquisador mostram que a taxa de desconforto no Brasil chegou a 19,83% no primeiro trimestre de 2021 e só perde para a Turquia, cuja última taxa registrada se refere ao quarto trimestre de 2020, quando chegou a 26,27%.

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Em seguida, aparecem a Espanha (16,09%), Colômbia (15,63%), Grécia (14,08%) e Chile (13,42%). Quanto mais alto for esse percentual, pior é a taxa de mal-estar de um país.

O índice de mal-estar ou taxa de desconforto - em inglês, chamada de misery index - une a situação do mercado de trabalho ao comportamento dos preços. O indicador é utilizado por economistas por duas razões: de um lado, a literatura econômica compreende que uma boa gestão macroeconômica deve ser capaz de minimizar a taxa de desemprego e inflação. Do outro, o índice permite avaliar como o cidadão médio sente os efeitos da economia ao longo do tempo, já que concentra dois indicadores sensíveis ao cotidiano da população.

No Brasil, especificamente, os cidadãos estão com a pior percepção sobre a situação econômica desde a recessão de 2016, quando o indicador chegou a 20,60% no terceiro trimestre daquele ano. Entre 2017 e meados de 2020, a taxa de desconforto chegou a cair para 15,32%, mas voltou a acelerar no ano passado e atingiu 19,83% no primeiro trimestre deste ano.

O cálculo é feito a partir da soma da taxa de desemprego à inflação em doze meses. Neste caso, foi considerada uma média trimestral da inflação e do desemprego. No Brasil, segundo o IBGE, a taxa de desemprego chegou a 14,49% em março, enquanto a inflação pelo IPCA foi de 6,10% em doze meses.

Duque explica que houve uma piora tanto no mercado de trabalho quanto na inflação em meio à pandemia. Segundo o IBGE, 29,7% da força de trabalho do país está subutilizada: são pessoas que estão desempregadas, desalentadas ou trabalhando menos horas do que gostariam.

Ao mesmo tempo, o câmbio desvalorizado em meio a alta dos preços de commodities, apesar de sustentar o crescimento de setores da atividade econômica, pressiona a inflação e corrói a renda das famílias.

“A economia está em situação aparente de melhora, mas a população está em mal-estar. A recuperação tem sido puxada por agropecuária e indústria, que empregam menos”

Daniel Duque

Pesquisador do Ibre-FGV

PIB:Recuperação desigual deixa para trás setores que mais empregam

Julia Braga, economista e professora da UFF, lembra que o crescimento de 1,2% do PIB no primeiro trimestre deste ano colocou o país no mesmo nível de 2014, mas ainda guarda um "passivo social que não foi resolvido".

— A gente está a mercê do ciclo internacional para o crescimento. E o mercado de trabalho já estava muito frágil antes da pandemia, vindo de uma década de estagnação econômica.

Para a economista Maria Andreia Parente, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a pandemia impactou diretamente o emprego, sobretudo dos trabalhadores informais e menos escolarizados, geralmente concentrados no setor de serviços.

Além do mercado de trabalho difícil, a inflação nos últimos doze meses pressionada pelos altos preços dos alimentos, energia e combustíveis - itens básicos e que pesam mais para as famílias de renda mais baixa - faz com que essa parcela da população encare um custo de vida maior.

“O desemprego bate mais forte para essas pessoas (de renda mais baixa) e ainda vimos uma aceleração da inflação. Isso gera uma sensação de mal-estar que só não ultrapassou o nível histórico de 2016 porque tivemos o auxílio emergencial”

Maria Andreia Parente

Eonomista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)

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Esse é a percepção da diarista Tayene da Silva, de 33 anos. Mãe de quatro filhos, ela conta que a primeira rodada do auxílio emergencial foi o que ajudou a sustentar a família no ano passado, quando a procura por serviços domésticos despencou com a pandemia. Este ano, porém, Tayene está se virando como pode, já que só recebeu o Bolsa Família, de menor valor:

— Eu cato latinha, vendo ferro, às vezes vendo papelão. Quando aparece uma faxina ou outra, que é mais raro, eu faço. Mas está difícil. Carne já não entra aqui em casa há muito tempo. A conta de luz está muito cara, e o gás de botijão também. Não vejo esse crescimento (da economia) que falam, é só ilusão. Acho que a situação está ruim e tende a piorar porque falta oportunidade.

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E especialistas concordam que a percepção sobre a economia ainda tende a "piorar antes de melhorar". Isso porque o Brasil é um dos países com a pior aceleração da taxa de desconforto.

A inflação em doze meses já chega a 8,06%, considerado o resultado de maio, e a taxa de desemprego - atualmente em 14,7% no trimestre encerrado em março - ainda tende a subir na comparação mensal e interanual:

— Começamos a ver um aumento dos preços administrados, como energia e gasolina, puxados pela seca e pelo dólar. E ainda vamos ver um grande número de pessoas voltando a procurar trabalho, (o que pressiona a taxa), antes que o número de empregos gerados possa ser maior do que isso. Sem dúvidas a gente supera a situação em que estivemos em 2016 — afirma Duque.

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Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria, avalia que o desempenho positivo da economia no início do ano não se traduz em melhores projeções para o mercado de trabalho.

A consultoria projeta que o PIB avance 4,4% após cair 4,1% em 2020, mas a projeção para taxa média de desemprego neste ano é de 14%, acima dos 13,5% registrados no ano passado.

— Os trabalhadores mais vulneráveis e menos escolarizados, que foram os mais afetados pela pandemia, devem voltar a procurar emprego com o avanço da vacinação e afrouxamento das medidas de isolamento.

Ele acrescenta:

— Mas por mais que haja uma reação do mercado de trabalho, ela não será suficiente para garantir uma renda familiar nos níveis de 2020 entre os pobres, que contaram com a proteção social como a do auxílio emergencial. A perspectiva para as classes D e E é de uma queda na renda.

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A promotora de vendas Carla Evangelista, de 33 anos, está entre os mais de 14,8 milhões de brasileiros que buscam nova oportunidade de trabalho. Mãe solo, ela foi demitida em fevereiro e perdeu 70% da renda. O benefício do Bolsa Família e a pensão do pai de seu filho ajudam a conter certas despesas, mas não a eximiu de pedir a ajuda de parentes e pessoas próximas para se manter:

— Não acho que as coisas vão mudar muito rápido, o governo não está preocupado com o sofrimento que estamos passando. Eu só quero viver com dignidade — desabafa.

*Estagiário, sob supervisão de Danielle Nogueira

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