RIO — Não basta mais vender pela internet. Com a alta dos negócios on-line provocada pela pandemia, gigantes do comércio eletrônico e até start-ups iniciaram uma verdadeira guerra pela entrega ultrarrápida. Depois do clique, passou a ser uma questão de horas — ou minutos em alguns casos — até a chegada do produto à casa do cliente.
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Essa rapidez, que já virou motivo de briga na publicidade, vem exigindo mudança no modelo de negócios, com o investimento em tecnologias de gerenciamento de estoque e ritmo pesado de aquisição de empresas de logística.
Para especialistas e empresas, o esforço ocorre por uma necessidade do próprio consumidor, que tem cada vez mais pressa para receber as compras em casa. Hoje, em média, as entregas em até 24 horas já respondem por metade das operações no comércio eletrônico.
Mas a meta de muitas companhias é que esse marco seja substituído pelo delivery com prazos mais curtos, de dez minutos a duas horas.
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Em um modelo que inclui o uso de lojas físicas como minicentros de distribuição, o Magazine Luiza adquiriu três start-ups de logística em três anos. A mais recente foi no fim de julho, a Sode, plataforma digital especializada em logística urbana para entregas ultrarrápidas.
De graça e em um dia
A meta da companhia é fazer entregas em até uma hora em todas as capitais do país para produtos de até 15 quilos e, para isso, chegar a 33 centros de distribuição e 1.680 lojas físicas neste ano:
— Quando falamos em entregas ultrarrápidas, falamos em inteligência artificial e machine learning (aprendizagem de máquina) para ter a quantidade certa dos produtos certos nas lojas e centros de distribuição — ressaltou Luís Fernando Kfouri, diretor de Logística do Magalu.
Ele continua:
— Verificamos que a conversão de vendas subiu 62% quando o período de entrega caiu de quatro horas para uma hora.
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Semana passada, a Amazon anunciou entrega gratuita em um dia útil em mais de 50 cidades, incluindo São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Recife. Até então, a entrega gratuita mais rápida era de dois dias úteis para mais de 700 cidades.
A empresa também iniciou testes para fazer o delivery feito no mesmo dia da compra. Para isso, desenvolveu sistemas para aumentar a integração entre os varejistas presentes em sua plataforma, estocando produtos em parte de seus nove centros de distribuição.
Criou ainda sistema em que coleta o produto no estoque do varejista e entrega na casa do cliente.
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Integração digital
Ricardo Garrido, diretor da gigante de e-commerce, disse que foram abertos quatro centros de distribuição no último ano para aumentar a velocidade de entrega e levar a opção de envio em 48 horas para 750 cidades.
— Vamos continuar testando entregas mais rápidas. E isso vai exigir investimento em tecnologia e logística — diz Garrido.
Nas Americanas, as entregas em até três horas já somam 13,7% do total. Para 2021, a meta é acelerar o avanço em entregas de até 30 minutos.
A disputa para ser o mais veloz já chegou ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que, em julho, pediu a alteração de anúncios de Magazine Luiza, Americanas e Mercado Livre. As três alegavam realizar a “entrega mais rápida do Brasil”.
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A Fast Shop não quer ficar para trás. Está implementando entregas em até uma hora no Rio e São Paulo para itens de médio porte. Para isso, vai usar os estoques de suas 85 lojas físicas e 11 centros de distribuição no país.
Impaciência do consumidor
Eduardo Salem, diretor-geral de Operações, lembra que a empresa fez parceria com aplicativos para acelerar a estratégia. Até o fim do ano, a companhia quer entregar no mesmo dia eletrodomésticos maiores comprados pela internet, opção hoje disponível apenas para quem vai às lojas.
— Nossa meta é que 70% das entregas ocorram em até um dia útil. O cliente passou a transitar mais no varejo físico e digital— disse Salem.
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Essa integração no varejo dá novo norte ao SuperPrix, que investiu mais de R$ 3 milhões na estratégia on-line e criou modelo para entregas em duas horas com a contratação de funcionários específicos para a área.
— Com a pandemia, aceleramos os processos, impondo uma urgência para chegar com mais rapidez às casas dos consumidores — disse Viviane Areal, diretora da rede, com 16 lojas.
A psicóloga Marta Ferreira Andrade diz que a ansiedade e a impaciência trazidas pela Covid-19 e o isolamento social vêm fazendo o consumidor querer tudo na hora:
— Em um momento em que tudo é urgente, esperar um dia por um livro ou eletrodoméstico comprado na internet virou motivo de insatisfação. É o novo normal.
Peixe fresco na web
A estratégia de chegar mais rápido à casa do cliente vai além dos gigantes da internet. A Porto Frescatto lançou sistema de entrega de peixe fresco para as compras feitas pela web no mesmo dia em cidades como Rio e São Paulo, estratégia que será replicada em Brasília e Belo Horizonte.
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Thiago de Luca, presidente da Frescatto Company, revela que a iniciativa representa uma mudança estratégica da companhia. Além da venda de produtos pela internet, a Frescatto desenvolveu ainda opções para que o cliente consiga montar a própria refeição em casa, com atum, salmão e sushi.
— Com a pandemia, a compra na internet passou a ser uma programação. O cliente tem a ideia, compra e quer receber rápido. Por isso, investimos em solução on-line de acompanhamento de estoque, contratamos funcionários para atuar na entrega e investimos em centros de distribuição — listou De Luca.
Já o aplicativo Rappi criou o botão Turbo-Fresh para entregas em dez minutos. No Rio, a novidade será em parceria com o mercado Zonal Sul. Para isso, serão abertas 25 dark stores (unidades que atendem exclusivamente compras on-line) até outubro com atuação em um raio de dois quilômetros de distância.
No Brasil, serão 150 espaços em diversas cidades, revela Mariam Topeshashvili, diretora de Dark Stores do Rappi. Paulo Ballestero, gestor digital do Zona Sul, ressalta a importância da parceria:
— Assim conseguimos levar de forma ágil produtos frescos e de qualidade para os nossos clientes.
Negócios para apps
A promessa de entregas rápidas também está atraindo start-ups, como a Daki, que recebeu aporte de US$ 170 milhões. O aplicativo abriu centro de distribuição no Rio e promete entregas em até 15 minutos para itens diversos. A meta é abrir cem espaços no Brasil.
— Começamos nossa operação em janeiro já com essa proposta virtual. Há uma pressão por entrega cada vez mais rápida — disse Rafael Vasto, fundador.
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A start-up +Envios também entrou nesse filão para atender a demanda das grandes empresas no Brasil. Raphael Alexandre, diretor da companhia, disse que a ideia é buscar redução no preço do frete com soluções mais eficientes.
Já são mais de 300 clientes com aposta de grande crescimento neste ano. A projeção é crescer 300% até o final de 2021.
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