O rombo das contas externas do Brasil recuou de janeiro a agosto deste ano e foi o menor registrado, para este período, nos últimos 14 anos, ao mesmo tempo em que os investimentos estrangeiros diretos na economia do país avançaram 15% — mas ainda não retornaram ao patamar pré-pandemia. Os números foram divulgados nesta sexta-feira (24) pelo Banco Central (BC).
Segundo a instituição, o déficit registrado nas contas externas nos oito primeiros meses deste ano foi de R$ 6,539 bilhões, com queda de 49,5% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 12,957 bilhões). Este também é o menor valor para este período desde 2007, quando foi registrado um superávit em transações correntes de US$ 2,407 bilhões de janeiro a agosto.
O resultado em transações correntes, um dos principais sobre o setor externo do país, é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).
De acordo com o BC, a melhora no rombo das contas externas na parcial de 2021 está relacionada com o bom desempenho da balança comercial, com o déficit menor da conta de serviços, relacionado com a queda nos gastos com viagens de brasileiros ao exterior, e também com a redução nas remessas de lucros e dividendos por empresas para fora do país.
- Em um cenário de recessão por conta do coronavírus, o déficit das contas externas recuou 75% em 2020 e foi para US$ 12,517 bilhões.
- Para todo ano de 2021, a expectativa do Banco Central é de uma nova melhora nas contas externas, por conta do bom saldo da balança comercial (fruto do dólar alto, que torna as exportações mais rentáveis e as compras do exterior mais caras). A estimativa da instituição é de um saldo positivo de US$ 3 bilhões nas contas externas neste ano.
Investimento estrangeiro
O Banco Central também informou que os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 36,245 bilhões nos oito primeiros meses deste ano, com alta de 15% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 31,550 bilhões).
Entretanto, ainda de acordo com números oficiais, o ingresso de investimentos estrangeiros, de janeiro a agosto deste ano, ainda não ficou acima do registrado em igual período de 2019, antes da eclosão da pandemia do coronavírus — quando houve a entrada de US$ 43,881 bilhões no Brasil.
Segundo informações do Banco Central, o ingresso de investimentos estrangeiros diretos no país, nos oito primeiros meses deste ano, também foi suficiente para cobrir o rombo de R$ 6,539 bilhões nas contas externas no período.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, os investimentos estrangeiros somaram US$ 49,4 bilhões em doze meses até agosto deste ano, contra US$ 70,4 bilhões no ano terminado em março de 2020, antes da pandemia. Com isso, houve uma queda de 30% nos investimentos diretos nesta comparação.
Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.
- Em todo ano passado, os investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira somaram US$ 44,661 bilhões em 2020 (dado revisado), com queda de 35,4% frente a 2019.
- Para 2021, o Banco Central estima um ingresso de US$ 60 bilhões em investimentos estrangeiros diretos na economia brasileira. Para o mercado financeiro, o ingresso será de US$ 50 bilhões neste ano.
Gastos de brasileiros no exterior
Segundo o Banco Central, os gastos de brasileiros no exterior somaram US$ 447 milhões em agosto. Esse é o terceiro mês seguido, após o início da pandemia da Covid-19, que essas despesas ficam acima da marca de US$ 400 milhões.
O patamar de gastos em agosto deste ano é 65% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado, quando somou US$ 270 milhões. Porém, ainda ficou abaixo do patamar de agosto de 2019, antes da pandemia, quando somou US$ 1,3 bilhão.
O aumento de gastos de brasileiros no exterior acontece em meio à reabertura dos países para o turismo, com a redução do distanciamento — consequência da ampliação do processo de vacinação — e a um crescimento maior da economia brasileira.
O crescimento, ainda modesto, também é registrado em um momento que o dólar segue em patamar eleado. Na quinta-feira (23), a moeda norte-americana fechou em alta de 0,09%, a R$ 5,3086.
Com a disparada do dólar, as viagens de brasileiros ao exterior ficam mais caras. Isso porque as passagens e as despesas com hotéis, por exemplo, são cotadas em moeda estrangeira.
"Com uma parcela crescente da população brasileira já está imunizada com duas doses e vários países reabrindo suas fronteiras para pessoas vacinadas, junto com a recuperação econômica, é natural um aumento das despesas líquidas com viagens. É claro que um dólar em um valor mais depreciado trabalha em sentido contrário. Os gastos ainda estão aquém do que as viagens apresentavam na pré-pandemia", disse Rocha, do BC.
Apesar do aumento em agosto, na parcial dos oito primeiros meses deste ano ainda foi registrada queda nos gastos de brasileiros no exterior. Nesse período, as despesas lá fora somaram US$ 2,843 bilhões, contra US$ 4,111 bilhões no mesmo período do ano passado.
Rombo nas contas externas é o menor em 14 anos até agosto; investimento direto sobe 15% - G1
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