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Tuesday, October 26, 2021

Privatização da Petrobras por Bolsonaro é improvável, avaliam analistas - Folha de S.Paulo

Apesar da aposta nas ações da Petrobras logo após o governo falar em estudos para privatizar a estatal, o mercado financeiro vê poucas chances de que o projeto saia do papel ainda no governo Jair Bolsonaro (sem partido).

A avaliação do mercado financeiro é que as declarações sobre o tema tiveram o objetivo de reforçar a pauta reformista após uma semana de críticas pela proposta de estouro do teto de gastos.

Em um indicativo das dificuldades que um eventual processo de privatização vai enfrentar, os petroleiros anunciaram nesta terça-feira (26) uma agenda de mobilizações, com ameaça de greve nacional caso a ideia seja levada adiante.

"A resistência será enorme", diz o analista Pedro Galdi, da gestora de recursos Mirae, ressaltando que o governo precisaria ainda definir um modelo e migrar a companhia para o novo mercado antes de dar início ao processo.

As notícias sobre privatização começaram a ganhar força ainda na manhã de segunda-feira (25), depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que a venda de ações da estatal "entrou no radar" do governo.

Durante a tarde, o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (MDB-PE) afirmou que já havia estudos sobre o processo, gerando uma corrida por ações da companhia, que fecharam o pregão em alta de quase 7%.

Ainda que o mercado tenha se animado com a notícia, analistas veem a proposta como "um sonho distante", nas palavras de Pedro Soares, Thiago Duarte e Daniel Guardiola, do banco BTG.

"A Constituição brasileira define que certas atividades, incluindo algumas exercidas pela Petrobras, são competência do Estado, o que significa que uma privatização pode requerer emendas constitucionais", dizem.

Os analistas Bruno Amorim e João Frizo, do Goldman Sachs acrescentam que o governo enfrentaria dificuldades para aprovar uma lei de privatização da estatal às vésperas das eleições de 2022.

"O foco dos parlamentares na eleição de 2022 tem potencial de impactar o tempo necessário para um processo como esse", escreveram, em relatório divulgado na segunda-feira (25), logo após as primeiras notícias sobre o tema.

Ilan Arbetman, da Ativa Corretora, lembra que a privatização da Eletrobras começou a ser discutida ainda no governo José Sarney (1985-1990), saiu da pauta durante os governos petistas, retornou com Michel Temer (2016-2018) e só foi aprovada este ano.

O tema não chegou a ser discutido internamente na empresa. Tanto que a própria estatal divulgou comunicado ao mercado dizendo que cobraria explicações do Ministério da Economia sobre as notícias.

Para o mercado, trata-se de mais uma tentativa de gerar notícia com viés positivo para o mercado financeiro em meio às queixas pela alta dos preços dos combustíveis e à crise provocada pela proposta de estouro do teto de gastos.

Arbetman lembra que a privatização da Eletrobras foi aprovada após a crise gerada pela demissão de Roberto Castello Branco da Petrobras, que gerou temor de intervenção federal na estatal.

"Pode ser um movimento para mostrar ao mercado que a pauta reformista não foi abandonada", afirma, destacando que a estabilização da economia, com a queda do dólar, seria uma maneira mais fácil de controlar o preço dos combustíveis.

Nesta terça (26), a FUP (Federação Única dos Petroleiros) aprovou uma agenda de "ações de resistência" contra a proposta, que inclui a realização de greve nacional por tempo indeterminado caso o governo apresente um projeto de lei sobre o tema.

"Caso tente privatizar a Petrobras, o governo federal enfrentará a greve mais forte da história da categoria em defesa do patrimônio público nacional", disse, em nota, o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Após a forte alta de segunda, as ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 0,96% nesta terça, já como um movimento de acomodação de expectativas depois da euforia com a possibilidade de privatização.

"Seja qual for o modelo, o capital político necessário para tornar isso possível será enorme e, com o ano eleitoral à frente, não esperamos que os políticos arrisquem sua popularidade em um tema controverso", resumem os analistas do BTG.

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