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Wednesday, November 3, 2021

'É o cenário mais instável que tivemos até hoje', diz CEO da Chilli Beans sobre a situação político-econômica do país - Jornal O Globo

RIO — O CEO da Chilli Beans, Caito Maia diz não se lembrar de ter vivido um cenário político-econômico tão instável nos seus mais de 20 anos como empresário. À frente da marca de óculos de sol que fundou em 1997, conta que “sentiu na veia” a alta do dólar, por importar 100% de seus produtos, mas aprendeu a lidar com as crises. “Quer morar no Brasil? O Brasil é isso, tem essa instabilidade”, diz.

Sua estratégia inclui hedge (operações para reduzir riscos cambiais), negociação com fornecedores e um esforço para agregar valor aos produtos. Afinal, teve de repassar parte da alta de custos para o consumidor mesmo com todo o esforço.

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Reajustou produtos em 8% este ano. Na pandemia, a Chilli Beans percebeu uma mudança de comportamento do brasileiro, com maior demanda por óculos de grau e decidiu investir R$ 25 milhões numa fábrica de lentes, a primeira da empresa. A previsão é abrir em 2022, mas a localização ainda não foi definida.

Entre o tempo dedicado aos negócios e às gravações de um programa de rádio para empreendedores e da atração de TV Shark Tank Brasil, no canal Sony, ele conversou com o GLOBO. Veja os principais trechos da entrevista.

Como a escalada do dólar afetou os negócios da Chilli Beans?

Para uma empresa que importa 100% do seu produto, isso pega na veia. Mas somos resilientes. A gente não achava que ia ter essa subida de quase bater R$ 6. Eu estou hedgiado até março do ano que vem a R$ 5,30. A gente faz hedge e cada vez mais gera valor agregado para nossos produtos. E negociamos o preço com o fornecedor chinês. Essa estratégia não é de hoje. A gente tem esse problema (do dólar subindo) nos últimos cinco anos. Então, a gente aprendeu a conviver com isso. Quando chega esse dólar a quase R$ 6, a gente está pronto para combatê-lo.

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Como gerar valor agregado para o produto?

Lançamos uma coleção agora chamada Eco, feita com resíduos encontrados no mar. Então, a gente não está vendendo óculos. A gente tem uma história para contar. Você está comprando óculos e ajudando a natureza. E o óculo custa R$ 258. Quando você gera valor e tem uma história para conta do produto, isso te ajuda a compensar uma alta no preço.

A Chilli Beans teve que reajustar preço?

A gente ajustou preço em 8% a 9%, enquanto o mercado ajustou em 20%. Estamos planejando entrar o ano que vem com as mesmas margens que a gente tinha há seis anos.

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A empresa importa 100% da China?

Sim, infelizmente o governo brasileiro inviabilizou as fábricas brasileiras. Durante dez anos a gente comprou de uma fábrica em Montes Claros (MG). Cerca de 20% da nossa produção vinham de lá. O governo tinha que reduzir imposto e gerar know how. Não é só preço, tem que modernizar também. Tenho 3 milhões de peças/ano. Ninguém tem esse volume para vender.

Com o dólar caro e o problema dos contêineres, a empresa pretende diversificar o suprimento agora? Ou a China é imbatível?

Nada é imbatível. Estamos fazendo cotação com fornecedores na Índia e do Vietnã. Quando você não tem a sua própria fábrica, o que acho ótimo porque você não tem esse peso nas costas, você está continuamente buscando as melhores fábricas, buscando oportunidades.

O aumento de preços vai afetar as vendas da Black Friday e do Natal?

Não vai afetar. A Chilli Beans trabalha com o conceito de preço justo e, assim, ganha a confiança do consumidor. Nossa média de desconto anual é de 5%. Praticamente não damos desconto, porque já temos o preço justo.

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Se não é bom ter uma fábrica nas costas, por que a empresa quer investir numa fábrica de lentes agora?

A lente faz parte da verticalização do negócio. Vou vender R$ 150 milhões em pares de lentes neste ano no Brasil. Foi o que salvou a gente na pandemia. O processo de criação de uma lente é mais simples. Quando há uma demanda dentro de casa… A gente fez conta e viu que fazia sentido abrir uma fábrica de lentes para visão simples, os graus básicos. Hoje, 50% das vendas nas nossas lojas são de grau simples.

Será a primeira fábrica da empresa?

Sim, e vai atender a rede toda, das lojas vermelhas marca Chilli Beans e a Ótica Chilli Beans. Será um investimento de R$ 25 milhões. O lugar ainda não foi definido.

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O que aconteceu na pandemia que fez a empresa despertar para um novo segmento de negócios?

Antes da pandemia, nas lojas vermelhas da Chilli Beans a gente vendia 20% de óculos de grau e 80% de óculos escuros. Quando as lojas começaram a reabrir, em julho do ano passado, ficou 50% de óculos de grau e os outros 50% de óculs escuros. A gente rapidamente aumentou o mix das lojas no Brasil inteiro.

Fizemos uma campanha nacional e uma competição interna e assim conseguimos crescer 10% a partir de setembro (sobre igual período do ano anterior) com essa oportunidade. Havia uma demanda reprimida. Quando fizemos isso, ganhamos clientes novos. E ganhamos participação de mercado.

As pessoas passaram a cuidar mais da vista?

O cara estava o dia inteiro olhando para uma tela, em home office. Em casa, as pessoas leram mais livros. E acho que queriam se proteger também (contra o vírus) quando saíam na rua. O fato é que o interesse por óculos de grau triplicou quando voltamos a abrir as lojas.

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Ainda apostam em lojas físicas?

Vamos abrir 163 lojas em 2021, sendo 113 Óticas Chilli Beans. Acreditamos no omnichannel, o on-line junto com o físico. Transformamos as 732 páginas no Instagram que a nossa rede tem em páginas de venda. Então, agora, todo franqueado tem uma loja física e uma loja on-line. São quase 5 milhões de seguidores. Isso é mais uma evolução no aprendizado.

Vai entrar com mais força no mercado internacional?

Hoje estamos em 19 países. Na pandemia, fechamos uma parceria com uma grande rede de varejo alemã, a Hirmer, que vai abrir 64 lojas nossas em Alemanha, Áustria, Luxemburgo e Suíça. Hoje, o internacional representa 11% do nosso faturamento. A meta é chegar a 20% em cinco anos.

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Há sinas de queda nas vendas no comércio, endividamento e inflação. Os óculos são um produto não essencial. Como esse cenário afeta a Chilli Beans?

Existe um lado que é a inflação, o endividamento das famílias, o desemprego alto. Não adianta correr disso. Isso não ocorre só no Brasil. As empresas que vão ganhar o jogo são as que vão pegar as oportunidades que vão surgir no mercado. Da mesma maneira que vimos no ano passado que havia uma oportunidade nos óculos de grau, a gente vai estar sempre atrás das oportunidades.

Em julho, crescemos 7% em loja comparada (comparação de vendas com lojas já existentes, sem contar expansão), em agosto foi 8% e, em setembro, foi 10%. Da mesma maneira que temos indicadores bem preocupantes, e não adianta tapar o sol com a peneira, a gente também tem oportunidades.

Como vê o cenário político-econômico até a eleição? Dólar está alto, Bolsa abaixo de 110 mil pontos.

Muito instável. Na história que eu tenho de empresário é o cenário mais instável que tivemos até hoje. Tudo pode acontecer. Pode acontecer de ganhar (as eleições) o lado esquerdo, o direito, o meio. Tudo pode acontecer. Vou te falar o que eu faço: eu não gasto energia com o que não posso mudar.

Eu olho para dentro. Senão, eu vou me influenciar com coisa negativa, vou pirar, enlouquecer. Não é a primeira crise por que a gente passa. E vou passar por várias outras. Que não seja outra pandemia, porque a pandemia foi rock´n roll. Mas eu ponho energia onde posso mudar. Você quer morar no Brasil? O Brasil é isso, tem essa instabilidade mesmo.

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