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Wednesday, February 23, 2022

IPCA-15 é o maior para fevereiro desde 2016 e vai a 10,76% em 12 meses - Folha

Pressionada pelas despesas com educação, alimentação e transportes, a inflação medida pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) subiu 0,99% em fevereiro, informou nesta quarta-feira (23) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Trata-se da maior variação para o mês desde 2016 (1,42%). O resultado sinaliza uma aceleração frente a janeiro. No mês passado, a alta havia sido de 0,58%.

A taxa de fevereiro ficou acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam avanço de 0,87%.

Com a entrada do novo dado, o IPCA-15 acumulou alta de 10,76% em 12 meses até fevereiro. A expectativa do mercado era de avanço de 10,63%. O acumulado estava em 10,20% até janeiro.

"É um cenário que continua ruim, com inflação persistente e mais disseminada. O quadro deve continuar assim pelo menos no primeiro trimestre do ano", avalia o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos.

"Temos uma inflação que segue pressionada na margem. Ainda não vemos sinais de trégua", afirma a economista Júlia Passabom, do Itaú Unibanco.

Educação avança 5,64%

De acordo com o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA-15 tiveram alta de preços em fevereiro. A maior variação (5,64%) e o maior impacto (0,32 ponto percentual) vieram do segmento de educação.

Cursos regulares subiram 6,69% com os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo, indicou o IBGE. Foi a maior contribuição dentro de educação (0,28 ponto percentual).

As maiores variações nos cursos vieram do ensino fundamental (8,03%), da pré-escola (7,55%), do ensino médio (7,46%), da creche (6,47%) e do ensino superior (5,90%). Curso técnico e pós-graduação subiram 4,40% e 2,93%, respectivamente.

Na sequência de educação, aparece o grupo alimentação e bebidas, que avançou 1,20%, com impacto de 0,25 ponto percentual no IPCA-15. O segmento acelerou na comparação com o mês anterior (0,97%).

O subgrupo alimentação no domicílio passou de 1,03% em janeiro para 1,49% em fevereiro. Os maiores impactos vieram da cenoura (49,31%), da batata-inglesa (20,15%), do café moído (2,71%), das frutas (1,75%) e das carnes (1,11%). Por outro lado, houve queda nos preços do frango inteiro (-1,97%), do arroz (-1,60%) e do frango em pedaços (-1,31%).

Depois de educação e alimentação e bebidas, o grupo de transportes foi o terceiro destaque de fevereiro. O segmento subiu 0,87%, contribuindo com 0,19 ponto percentual, após queda de 0,41% em janeiro.

Em transportes, os preços de veículos próprios avançaram 2,01%. Houve altas em automóveis novos (2,64%), motocicletas (2,19%) e automóveis usados (2,10%).

Já os combustíveis, também dentro de transportes, registraram estabilidade em fevereiro (0%). Enquanto o óleo diesel (3,78%) e a gasolina (0,15%) registraram alta de preços, etanol (-1,98%) e gás veicular (-0,36%) caíram.

O único dos nove grupos em baixa em fevereiro foi saúde e cuidados pessoais. O recuo foi de 0,02%.

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também produzido pelo IBGE.

Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, o dado de fevereiro ainda não está fechado. Será conhecido em 11 de março.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. O indicador prévio costuma ser calculado entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação, que neste caso são janeiro e fevereiro, respectivamente.

Em 12 meses, o IPCA-15 está bem acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA. O centro da medida de referência é de 3,50% em 2022. Já o teto foi definido em 5%.

Analistas do mercado projetam novo estouro da meta em 2022, o que significaria o segundo ano consecutivo de descumprimento. De acordo com a mediana das projeções do boletim Focus, a alta prevista para o IPCA até dezembro deste ano é de 5,56%.

Segundo Júlia Passabom, do Itaú Unibanco, a perda de fôlego do indicador só deve ocorrer com maior força a partir de maio, devido a fatores como o possível fim da bandeira de escassez hídrica, que encareceu as contas de luz nos últimos meses.

Por ora, mesmo com a surpresa do IPCA-15, o Itaú Unibanco mantém a projeção de alta de 5,5% para o IPCA no acumulado de 2022.

A Rio Bravo Investimentos, por sua vez, continua enxergando avanço de 5,4% no indicador oficial de inflação. Contudo, há risco de a estimativa ser revisada para cima, segundo o economista Luca Mercadante. "Se mudar, deve ser para pior", diz.

O C6 Bank adota postura semelhante. "Nossa projeção para inflação de 2022 é de 5,5%, com viés de alta. O resultado do IPCA-15 de fevereiro reforça esse viés", indicou em nota o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles.

Em uma tentativa de frear a inflação, o BC vem subindo a taxa básica de juros. A Selic alcançou 10,75% no começo deste mês.

O efeito colateral dos juros mais altos é inibir investimentos produtivos na economia, já que as linhas de crédito ficam mais caras no país. A redução de investimentos ameaça a geração de empregos e a retomada econômica.

Choques na pandemia

Segundo analistas, a inflação persistente reflete uma combinação de fatores vistos na pandemia.

Ao longo da crise, houve aumento dos preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, carestia de alimentos e rupturas na cadeia global de insumos industriais.

No Brasil, a pressão inflacionária foi intensificada pela desvalorização do real. O dólar, que impacta itens como combustíveis, subiu em meio à turbulência política protagonizada pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

O avanço generalizado dos preços castiga sobretudo os mais pobres, com menos condições financeiras para enfrentar a carestia.

Uma das ameaças ao controle inflacionário neste ano é a incerteza da corrida eleitoral, que costuma impactar a taxa de câmbio.

Há, ainda, o temor com os eventuais reflexos do clima adverso. A seca na região Sul, por exemplo, pode gerar novos avanços nos preços dos alimentos.

A inflação persistente fez parte dos brasileiros rever a rotina, com cortes no consumo diário de bens e serviços, e postergar planos, como cursos e viagens, ao longo da pandemia.

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