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Wednesday, September 21, 2022

Entenda como o aumento da taxa de juros nos EUA atinge a economia brasileira - InfoMoney

O Federal Reserve decidiu elevar a taxa de juros em 0,75 ponto percentual – a quinta alta seguida do ano. Apesar da subida de juros acontecer nos EUA, ela se reflete de algumas formas na economia brasileira.

A chamada “Super quarta” – quando as agendas do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) e do Banco Central (BC) convergem para o anúncio dos juros no mesmo dia – indicará os rumos a serem tomados pelas autoridades monetárias dos dois países nos próximos meses.

A subida dos juros nos EUA inevitavelmente causa impacto global – e, evidentemente, a economia brasileira também é atingida. A flutuação do câmbio e os preços das ações negociadas na Bolsa de Valores são afetados, assim como o volume de investimentos.

Leia também: Banco Central interrompe ciclo de alta da Selic e mantém taxa em 13,75%

Os efeitos da alta de juros nos EUA para os investimentos no Brasil

Um dos principais efeitos da alta na taxa de juros americana se dá sobre os ativos brasileiros, que se tornam menos atraentes para os investidores estrangeiros. Na prática, a elevação dos juros nos EUA incentiva a aplicação em papéis no Tesouro americano, que são mais seguros e oferecem baixíssimo risco de perdas. A aplicação em países de economia emergente, como o Brasil, é apontada como de maior risco por causa da instabilidade desses mercados. Com menos capital disponível, a chance de que as ações de empresas listadas na Bolsa brasileira sejam negociadas fica ainda menor.

Grosso modo, quando os juros sobem, os títulos emitidos pelo Tesouro dos EUA – que normalmente já seriam mais atraentes para os investidores – se tornam ainda mais vantajosos, o que gera um fluxo de investimento maior em sua direção.

“Quanto mais o BC americano subir juros, menor o diferencial de juros entre o Brasil e os EUA. E esse diferencial menor acaba sendo importante para determinar, por exemplo, a cotação do real”, afirma Gabriel Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, em entrevista ao InfoMoney. “Começa a ficar menos interessante para o investidor estrangeiro aplicar no Brasil ou em outros países emergentes”, explica.

Leia mais: O que explica o crescimento surpreendente da economia brasileira?

Pressão sobre o real

O câmbio também é diretamente atingido pela escalada da taxa básica de juros definida pelo Fed. O maior volume de investimento nos EUA leva à valorização do dólar em relação a outras moedas, especialmente aquelas dos países emergentes. O raciocínio é simples: no Brasil, se os investidores são afugentados para outros mercados, a moeda americana entra no país em menor quantidade; mais escassa, seu valor sobre o real sobe.

“O real tende a ficar mais pressionado por essa taxa de juros mais alta do Fed”, diz Barros. “Em condições normais, isso é uma pressão contra a valorização do real. Quanto maior a taxa de juros do Fed, menor o espaço para a apreciação do real.”

Uma das consequências desse movimento é o encarecimento de produtos importados, commodities e itens de alta tecnologia, entre outros. Ao fim e ao cabo, a valorização do dólar pode gerar até aumento da inflação no Brasil, pois a importação de componentes amplamente utilizados pela indústria nacional se torna mais custosa. Um dos exemplos mais emblemáticos é o petróleo produzido pela Petrobras, cujo preço está atrelado ao dólar. A política de preços dos combustíveis está vinculada à flutuação do valor praticado no mercado internacional.

Inflação acima do esperado

Nas reuniões do Fed de junho e julho de 2022, houve elevação de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros, levando o indicador à faixa de 2,25% a 2,5% ao ano. O ciclo de alta teve início em março – só em 2022, o índice já havia subido desde então 2,25 pontos.

Segundo dados divulgados no dia 13 de setembro pelo Departamento do Trabalho do governo americano, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou alta de 0,1% em agosto em relação ao mês anterior. No acumulado de 12 meses, a inflação é de 8,3%. O resultado veio acima das estimativas, que apontavam até uma deflação de 0,1% na base mensal de comparação e uma elevação anual de 8,1%, de acordo com a Refinitiv. Para conter a pressão inflacionária, o aperto monetário do Fed deve continuar.

“O que os membros do Fed têm sinalizado é que eles vão evitar tomar uma decisão com base em um único mês. Do ponto de vista do Fed, eles estão olhando mais a floresta dos dados econômicos do que a árvore”, analisa Gabriel Barros.

“Com o núcleo de inflação pressionado e o Fed ainda longe de chegar à taxa terminal, eles devem continuar [a subida dos juros] independentemente desse resultado pontual. A mensagem do Fed é que o juro ainda está muito distante do que eles entendem como o ideal para domar a situação”, completa economista-chefe da Ryo Asset.

Expectativa para a Selic

Na “Super quarta”, além da decisão do Fed sobre os juros nos EUA, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reunirá para definir a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Atualmente, o índice é de 13,75% ao ano, mas há quem imagine que o ciclo de altas seja finalmente interrompido.

Na reunião do Copom em agosto, a Selic subiu 0,5 ponto porcentual. O BC iniciou a escalada dos juros em março de 2021, quando elevou a taxa de 2% (mínima histórica) para 2,75% ao ano. Desde então, foram 12 aumentos consecutivos. No início deste mês, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicou que a inflação ainda inspira atenção no país e, por isso, os juros não devem começar a baixar imediatamente.

“O mercado tem a expectativa de manutenção do índice atual da Selic ou de elevação em mais 0,25%, para 14% ao ano. O BC deve segurar essa taxa em um patamar elevado, 13,75% ou 14%”, projeta Gabriel Barros. “A taxa de juros deve ficar alta por um bom tempo. O BC só vai reduzir juros quando tiver muita segurança de que conseguiu ancorar as expectativas de inflação para 2023 e 2024.”

Recessão no horizonte

Além de subir os juros para enfrentar a inflação, os EUA vêm se preparando para uma recessão econômica cada vez mais provável, possivelmente a partir de meados de 2023. Para Barros, a recessão é inevitável, mas não deve ser tão profunda. “Você ainda tem os setores de comércio e serviços fortes nos EUA. Com o mercado de trabalho resiliente, pode haver uma sustentação para a atividade econômica”, afirma. “É uma recessão, mas acabará sendo uma recessão branda.”

Com a iminente contração da maior economia do mundo, países emergentes como o Brasil devem se preparar para um cenário hostil a partir do ano que vem – justamente quando um novo mandato presidencial terá início, em 1º de janeiro. “Além da recessão nos EUA, temos a China e a Europa desacelerando. É uma desaceleração sincronizada de grandes economias dos principais parceiros comerciais do Brasil. Não tem como isso não bater na gente. Vai tirar fôlego do nosso crescimento”, projeta Barros.

“Até agora, a economia brasileira vem bem e está surpreendendo, mas isso tem muito a ver com a reabertura do pós-pandemia e as transferências de renda apresentadas pelo Executivo e aprovadas no Congresso. Não vai durar para sempre. A recuperação cíclica uma hora chegará ao fim.”

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