Uma surpresa positiva movimentou as ações da Copel nesta segunda-feira (21). Com o aceno do governo do Paraná para uma possível privatização, as ações CPLE6 fecharam em alta de 22,07%, a R$ 8,74. O avanço nas units CPLE11 também superou os 22%. A elétrica trabalha com geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia – mas é mais forte na distribuição.
Embora o forte avanço no preço de uma ação diminua o retorno em dividendos (dividend yield) para os investidores, analistas consultados pelo InfoMoney se mostraram otimistas com os proventos futuros da empresa, que deve ganhar eficiência operacional, liquidez e reduzir o seu endividamento após ser privatizada. As projeções vão de 6,5% até 8,2% de dividend yield para CPLE6 em 2023.
Atualmente, a política de dividendos da Copel utiliza variáveis como alavancagem financeira (nível de endividamento) e fluxo de caixa disponível para as distribuições, explica Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest. O pagamento ocorre pelo menos duas vezes ao ano, explica o analista.
Quando a alavancagem da Copel – representada pelo indicador de dívida líquida/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) – está maior do que 2,7 vezes, o payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) é de 25% do lucro líquido.
O payout aumenta conforme o endividamento diminui. Se a alavancagem financeira estiver entre 1,5 e 2,7 vezes, o pagamento será de 50% do lucro líquido, limitado ao fluxo caixa disponível – que é a diferença entre o caixa gerado pelas atividades operacionais e o Capex (investimento na empresa).
Já se alavancagem estiver abaixo de 1,5 vez, o payout será de 65% do lucro líquido, limitado ao fluxo de caixa disponível. “Caso não haja lucro líquido, a companhia não tem a obrigação de distribuir proventos”, explica Biz, que não acredita em mudanças na política de dividendos no curto prazo.
Na visão de Anderson Meneses, Fundador e CEO da Alkin Research, a privatização permitiria uma melhor capitalização da Copel, reduzindo assim sua alavancagem financeira e favorecendo o aumento na distribuição de dividendos, de acordo com a política atual.
Outra vantagem, segundo Meneses, seria acelerar o plano de crescimento da companhia, melhorando a sua capacidade financeira. “A figura de uma corporation (sem acionista controlador e com capital disperso) deve trazer um maior interesse pelas ações da Copel e consequentemente múltiplos mais elevados”, avalia o CEO da Alkin Research.
A junção destes fatores se traduziria em um aumento dos dividendos da empresa. Meneses projeta um dividend yield para as ações CPLE6 de 6,5% em 2023, equivalente a R$ 0,56 de dividendos por ação, já embutindo o salto de mais de 20% no preço dos papéis na sessão desta segunda-feira (21).
Segundo ele, os acionistas que já tinham os papéis na faixa dos R$ 7, antes do anúncio da privatização, devem ter retornos próximos a 2 dígitos em dividendos nos próximos anos.
Biz, do GuiaInvest, acredita que pelo menos no curto prazo não deva ocorrer uma alteração significativa nas distribuições de dividendos da Copel. Já no longo prazo, ele avalia que a principal vantagem de uma privatização seria uma alocação de capital mais eficiente, aumentando as margens e rentabilidade da Copel, o que daria espaço para as ações valorizarem no longo prazo e as distribuições de dividendos se tornem previsíveis e consistentes.
Contudo, alerta que o fato de a companhia ser privatizada não significa necessariamente que os dividendos aumentarão. “No último ano, os fortes dividendos da Copel foram afetados por eventos não recorrentes. O dividend yield da empresa tende a diminuir, mas ainda continua atrativo”, destaca. Não acredita, no entanto, que a companhia permaneça entre as maiores pagadoras da Bolsa. A projeção de Biz é de que a Copel tenha um dividend yield de 8,2% em 2023.
Um cenário de equilíbrio
Para Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, não devem ocorrer mudanças substanciais na política de dividendos da Copel, que foi reformulada há pouco tempo. Contudo, a companhia já está dando sinais de mudanças de perfil. “Estamos diante de uma Copel mais atenta às oportunidades de investimento em geração e transmissão. A companhia vem se destacando nos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)”, diz.
No segmento de distribuição, Arbetman destaca que a companhia teve uma alocação muito interessante, com boa parte dos investimentos no segmento. Segundo o analista, à frente, a Copel deve apresentar equilíbrio entre um mix de investimentos e algum espaço para remunerar os investidores. “Quando você privatiza, flexibiliza uma série de questões operacionais, que permitem um resultado melhor”, aponta. Resultados mais saudáveis dariam lugar a dividendos maiores.
“É uma notícia boa para a Copel, que vai mudar a cara da empresa, e ter a cotação das ações evoluindo em função da atualização de expectativas do mercado”, completa Arbetman.
Distribuições mais constantes
Segundo Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, os dividendos da Copel devem continuar elevados, contudo podem ser adiantados. Ele explica, que “diferente de muitas elétricas, principalmente privadas, que pagavam dividendos em até dois ou três meses após divulgar resultados e aprovar proventos, a Copel chegava a pagar até um ano e meio depois do exercício”. “Isso é positivo para os acionistas”, diz.
Conde destaca que a companhia tem uma forte atuação na geração, distribuição e transmissão e sofre pouco com secas, que não são muito comuns no Paraná. “É uma geradora e distribuidora de risco baixo”, pontua.
A Levante elevou o preço-alvo da companhia para 2023, após a possibilidade da privatização, para R$ 14 na CPLE6. Segundo Conde, enquanto tramitar o processo de privatização, a Copel deve se manter como uma grande pagadora de dividendos. O provento projetado pela Levante Investimentos é de R$ 0,69 por ação, um dividend yield de 8% para 2023, já levando em conta a valorização desta segunda-feira.
“Vale a pena entrar nas ações de Copel, principalmente, nos períodos de difícil aprovação na Assembleia Legislativa do Paraná, porque a chance é alta de acabar passando e ser privatizada”, destaca Conde
Diluição do governo e governança atrai o mercado
Além da possibilidade de ter uma alocação de capital mais eficiente caso seja privatizada, analistas enxergaram com bons olhos a redução da participação do governo do Paraná – de 31,07% do total de ações para 15%. Na Eletrobras, por exemplo, a participação do governo foi para 29,02% do total (33,05% das ações ordinárias). Analistas como Conde, da Levante, esperavam que o governo do Paraná cedesse até no máximo 30% de participação.
Outro fator que foi visto como positivo foi o modelo de corporation, em que nenhum grupo de acionistas pode ter uma participação superior a 10%. Segundo Arbetman, da Ativa, há grande potencial nessa mudança – e com a diluição da participação do governo, muitas ações devem ir para o mercado, favorecendo a liquidez dos papéis.
Para Conde, ainda no quesito governança, existe a possiblidade de que a companhia migre para o Novo Mercado da B3, como no caso da Eletrobras.
Segundo o analista da Levante, há grandes chances de a privatização acontecer, dado o apoio que o governador Ratinho Jr. tem na Assembleia Legislativa, embora o processo possa apresentar bastante resistência. Sem oposição, todo o processo de privatização poderia levar entre 18 e 24 meses, calcula Conde.
Agora, os analistas aguardam novas pistas sobre a privatização da companhia e os dividendos no Copel Day, que acontecerá nesta terça-feira (22) às 9h, em transmissão online.
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