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Monday, December 11, 2023

Aumento do ritmo de corte da Selic volta ao radar do mercado - UOL

A possibilidade de o Banco Central acelerar o ritmo de corte de juros em 2024 voltou ao radar dos economistas com a redução dos riscos externos, o câmbio mais favorável e a perspectiva de queda das projeções de inflação para os anos seguintes.

Para o último encontro do ano, na quarta-feira (13), há consenso de que o Copom (Comitê de Política Monetária) fará um novo corte de juros de 0,5 ponto porcentual, levando a taxa básica (a Selic) para 11,75% ao ano.

A expectativa é que a decisão venha acompanhada de uma mensagem branda no comunicado.

Economistas ouvidos pela Folha estimam que o alívio registrado no ambiente internacional desde a última reunião, em novembro, dê mais conforto para o BC seguir sua estratégia pela quarta reunião consecutiva.

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, destaca que os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, os chamados Treasuries, cederam significativamente e que se consolidou uma visão do comportamento mais benigno da inflação global.

Esse cenário colaborou para a apreciação cambial —o dólar encerrou as negociações na sexta-feira (8) cotado a R$ 4,929, ante R$ 5 no cenário de referência do Copom na última reunião.

Como a taxa de câmbio impacta diretamente o modelo usado pelo BC, as projeções de inflação para 2024 e 2025 devem vir mais baixas. Nos cálculos de Damico, o índice deve recuar em torno de 0,1 e 0,2 ponto porcentual. Na última reunião, as estimativas do Copom situavam-se em 3,6% em 2024 e 3,2% em 2025.

Apesar das projeções mais baixas, o ex-diretor do BC Alexandre Schwartsman espera que o Copom ressalte que as estimativas ainda estão acima do centro da meta de inflação (3%), justificando a posição de segurar os juros em terreno contracionista —acima do neutro (que não estimula nem desestimula a economia).

Na visão dele, a melhora no câmbio "ajuda, mas não é a salvação da lavoura".

Entre os "ventos favoráveis", os economistas citam a continuidade do processo de desinflação e a materialização da desaceleração da atividade econômica —ainda que o último dado do PIB (Produto Interno Bruto) tenha surpreendido, com crescimento de 0,1%.

Para Daniel Karp, economista sênior do Santander, houve "um conservadorismo um pouco exacerbado por parte do BC na questão do risco global" no encontro passado e um receio prematuro com a situação.

Embora espere que o Copom reconheça a melhora no ambiente externo, ele diz acreditar que o tema ainda será tratado com cautela.

Karp também ressalta que o colegiado do BC poderia ser mais enfático quanto à melhora da inflação corrente e classifica como "conservadora" a afirmação de que o processo tem ocorrido conforme o esperado, uma vez que a autoridade monetária vem sendo surpreendida em suas projeções.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou desaceleração a 0,24% em outubro.

Com isso, ficou em 4,82% no acumulado de 12 meses —próxima do teto da meta (4,75%). O dado de novembro será divulgado nesta terça (12), dia da primeira sessão do Copom.

Na próxima reunião, a atenção do mercado estará voltada, sobretudo, à sinalização dos próximos passos.

Desde agosto, quando o colegiado do BC iniciou o ciclo de afrouxamento da política monetária, o Copom tem dito que "os membros do comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões".

Essa indicação corresponde a dois encontros subsequentes. Enquanto uma fatia do mercado financeiro espera a repetição da mensagem, outra parcela prevê um ajuste na comunicação com o objetivo de antecipar mudanças no plano de voo.

"Uma forma de deixar a porta aberta para aceleração do pace [ritmo], sem criar muitos ruídos, é trocar o plural de ‘próximas reuniões’ pelo singular. Assim, o mercado entende que [o indicativo] é só para janeiro", diz Damico, que vê possibilidade de um corte de 0,75 ponto porcentual na segunda reunião de 2024, em março.

Já para o economista do Santander, há uma probabilidade pequena de o BC aumentar o ritmo de corte de juros no ano que vem.

"Cada vez que ele [Copom] vai avançando no passo de 0,5 ponto porcentual, mais difícil fica de acelerar [o ritmo de cortes], porque já está mais próximo da taxa [terminal]", diz Karp.

Para mudar seu cenário-base, ele diz que é preciso que se consolide de maneira mais significativa a melhora do ambiente global, que a atividade econômica perca ainda mais força e que as expectativas de inflação caminhem em direção às metas perseguidas pelo BC.

Entre os fatores de risco para alta da inflação, alguns economistas citam a resiliência do mercado de trabalho. No trimestre até outubro, a taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% e o contingente da população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimado em 100,2 milhões, de acordo com o IBGE.

O professor associado da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro considera que os dados não refletem a realidade do país e fala em "desemprego disfarçado", com trabalhadores subutilizados.

Ele também diz que o último resultado do PIB coloca "um pouco de água morna na banheira", mostrando que a economia está perdendo tração.

Para Oreiro, o fraco investimento das empresas em capacidade produtiva e a queda do vigor da indústria de transformação são sinais claros de fraca demanda.

Na visão dele, isso seria suficiente para o colegiado do BC fazer um corte de 0,75 ponto porcentual já no próximo encontro do Copom —cenário que não espera que se concretize.

"Eu gostaria que o Copom acelerasse [o ritmo de corte], não creio que vá. É uma discussão que vai ganhar força no primeiro semestre de 2024, quando vierem os dados do primeiro trimestre, que podem ser de crescimento negativo", diz.

"Até porque não vamos ter a contribuição extremamente positiva do agronegócio no PIB por conta do El Niño [fenômeno climático]", afirma.

Outra divergência entre os economistas se refere ao cenário fiscal. Damico vê avanço na questão, com a tramitação no Congresso da Reforma Tributária e aprovação de medidas com potencial de aumentar a arrecadação do país.

Já Schwartsman diz que a incerteza fiscal continua, diante da possibilidade de o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) alterar no ano que vem a meta de déficit zero, mas que o BC "vai se fazer de sonso" para a questão.

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